No Brasil, a transição do estado de exceção para o estado democrático de direito contribuiu para mudanças significativas na concepção de policiamento. Entre outras mudanças, destacam-se: o controle externo da Corregedoria de polícia na investigação e punição aos "maus policiais"; a participação das polícias e da população nos conselhos comunitários, em busca de melhorias para os problemas relacionados à segurança; a preocupação, por parte dos policiais com um tratamento diferenciado aos cidadãos nas abordagens e aos que procuram as delegacias para prestarem queixas; o investimento na formação intelectual nas Academias de Polícias; as exigências para que o governo brasileiro obedeça aos acordos internacionais que estabelecem o fim da tortura como método de investigação. Esse processo encontrou, porém, alguns obstáculos e resistências. Neste artigo, resultado de uma pesquisa realizada entre os anos de 1999 e 2007, na Corregedoria Unificada de Polícias, em Fortaleza/Ceará, apresento algumas denúncias envolvendo policiais militares e civis em atos criminosos tipificados como transgressões disciplinares. Como conclusão da pesquisa, argumento que, por conta da ausência de diálogo e de regras pacíficas entre policiais e civis, a violência policial tem comprometido as expectativas do processo civilizador, que se exerce pelo fortalecimento do monopólio legítimo sobre o uso da força física.
In Brazil, the transition from the state of exception to the democratic rule of law contributed to significant changes in the design of policing. Among other changes, are included: external control of the police internal affairs, investigation and punishment for "bad cops", the involvement of the police and the population in community councils, seeking improvements to security issues, concerns by the police with a different treatment approaches for citizens and those who seek to provide the police complaints, investment in intellectual training in police academies, requirements for the Brazilian government to obey international agreements that establish the purpose of torture as a research method. This process has found, however, some obstacles and resistance. In this paper, results of a survey conducted between the years 1999 to 2007 the Unified Police Magistrate in Fortaleza (CE) presents some complaints involving military and civilian police in criminal acts punishable as disciplinary offenses. As a conclusion of the research, I argue that, because of the lack of dialogue and peaceful rules between police and civilians, police violence has compromised the expectations of the civilizing process that is exerted by the strengthening of the monopoly on the legitimate use of physical force.